Segunda-feira, Junho 23
Internacional

Sacar Sim, Mas Investir Também

Folha 87 min leitura
Sacar Sim, Mas Investir Também

João Lourenço, igualmente presidente da União Africana, discursava na abertura oficial da 17.ª Cimeira de Negócios Estados Unidos da América-África, que decorre até quarta-feira, e conta com a presença dos Presidentes da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, do Gabão, Brice Nguema, da Namíbia, Nedemupelila Nandi-Ndaitwah, e do Botsuana, Duma Boko, e chefes de Governo africanos.

Segundo o Presidente angolano, ao longo das últimas décadas, a presença americana em África tem evoluído, passando de uma presença marcada sobretudo por assistência, para uma presença cada vez mais orientada para o investimento privado, inovação e construção de parcerias robustas.

Para João Lourenço, são necessários investimentos também na indústria do ferro e do aço, do alumínio, do cimento, da agro-pecuária, da indústria naval, do automóvel e do turismo.

Os Governos africanos estão preparados para facilitar os negócios aos empresários norte-americanos, e o sector privado de África está disponível para construir alianças que gerem lucros, mas também prosperidade partilhada, avançou o Presidente angolano.

O chefe de Estado considerou ainda que os laços económicos entre África e os Estados Unidos da América têm potencial para crescer de forma significativa, salientando que as oportunidades de investimento privado directo estão em áreas-chave que correspondem tanto às prioridades do continente como às vantagens comparativas das empresas norte-americanas.

As áreas das energias renováveis, a agro-indústria e segurança alimentar foram destacadas por João Lourenço, “perante uma disponibilidade de milhões de hectares de terras aráveis, abundância de recursos hídricos, bom clima, grande oferta de mão-de-obra jovem e uma necessidade crescente de modernização tecnológica e das tecnologias digitais, onde a inovação africana se cruza com a capacidade de investimento americana para criar soluções escaláveis”.

“Destacamos também os minerais estratégicos, incluindo os minerais críticos para a transição energética global, cuja exploração responsável pode transformar as nossas economias e sociedades”, enumerou João Lourenço.

De acordo com o Presidente de Angola, neste capítulo, África espera mais do que capital, contando com parcerias que se enquadrem na soberania dos seus países, que valorizem o conteúdo local, que promovam a transferência de conhecimento e que contribuam para a geração de empregos qualificados.

João Lourenço referiu que este fórum deve ser visto como uma peça importante nas relações económicas entre África e os Estados Unidos da América.

“África já não é apenas um continente de grande potencial de riqueza mineral, de recursos hídricos e florestais, de crescimento demográfico inigualável, é cada vez mais um continente de decisões transformadoras e projectos concretos”, afirmou.

Acrescentou ainda que o continente africano pretende e está a trabalhar para electrificar e industrializar os seus países, acrescentando valor às matérias-primas, aumentando a oferta de postos de trabalho, para evitar o êxodo dos jovens africanos que constituem o maior activo e fazem “a perigosa e humilhante travessia pelo Mediterrâneo com destino para a Europa e outros lugares na busca de emprego e condições de vida”.

“Do norte ao sul e do Atlântico ao Índico, multiplicam-se investimentos estruturantes que estão a moldar um novo panorama económico africano, desde o Corredor do Lobito, que vai ligar por linha férrea o porto do Lobito no oceano Atlântico, ao porto de Dar-Es-Salam no oceano Índico e promete transformar o comércio intra-africano e intercontinental, às zonas económicas especiais em expansão no continente, passando pelas iniciativas em curso para desenvolver cadeias de valor regionais em sectores como os minerais críticos, a agricultura e a energia, apenas para citar alguns”, vincou.

Segundo João Lourenço, a transformação digital do continente africano “está em curso e a grande velocidade”.

“Num mundo marcado por instabilidades geopolíticas persistentes do Leste Europeu ao Médio Oriente, o continente africano, apesar de algumas bolsas localizadas de conflitos armados ou de tensão política, afirma-se como um parceiro de estabilidade e visão de longo prazo”, disse.

“As conjunturas externas reforçam ainda mais a urgência de aprofundarmos os nossos laços de confiança, cooperação económica e segurança estratégica, onde o papel dos Estados Unidos da América é incontornável, por terem um papel único à escala global”, acrescentou o chefe de Estado angolano.

O presidente da Comissão da União Africana disse hoje que “não há comércio com restrições às viagens” e criticou as tarifas abusivas impostas aos países africanos.

Mahmoud Ali Youssouf falava na cerimónia de abertura da 17.ª Cimeira de Negócios EUA-África, que decorre até quarta-feira em Luanda, e alertou para o que considerou como obstáculos aos negócios, aludindo às decisões da administração norte-americana de aumentar tarifas e alargar proibições de viagens a mais 36 países africanos, incluindo os lusófonos Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

“Quando 36 países da África não possuem ou são negados vistos para os Estados Unidos, como pode o comércio desenvolver-se entre as duas áreas? Quando as tarifas são impostas de forma abusiva contra os Estados africanos e, em alguns casos, mais de 40%, como é que os negócios se vão desenvolver?”, questionou, sendo aplaudido pela plateia.

O responsável da União Africana lamentou também que se tenha posto fim ao AGOA (Lei de Crescimento e Oportunidade para África), bem como os programas de ajuda ao desenvolvimento da USAID.

“Tudo isso foi abandonado. Alguém dizia que isso é um despertar para as nações africanas”, disse, salientando que a África vai depender cada vez mais dos seus recursos domésticos.

“Nós estamos a desenvolver políticas para mobilizar recursos nacionais, mas nós não podemos aceitar a rejeição de vistos. Nós não podemos aceitar tarifas infelizes que não têm nada a ver com as regras da Organização Mundial de Comércio”, criticou.

Por outro lado, salientou que a nova Comissão da União Africana se concentrou nos desafios da paz e da integração para pacificar o continente e promover os sectores chave, tais como minerais e energia, saúde e agro-indústria, infra-estruturas e economia digital, “portadores de desenvolvimento e prosperidade”.

“Não há dúvidas de que a África tem recursos naturais e humanos, 30% dos recursos minerais mundiais estão no continente, com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes”, salientou Mahmoud Ali Youssouf.

A nova Comissão da União Africana foi eleita em Fevereiro – quando o Presidente angolano, João Lourenço, assumiu também a presidência rotativa da organização – e é responsável por implementar as políticas e estratégias aprovadas pelos órgãos da UA, que conta com 55 Estados-membros.

O responsável da Comissão da UA descreveu os EUA como “um polo financeiro e de conhecimento”, salientando a importância de uma parceria equilibrada, justa e equitativa para que os Estados-membros da UA abram seus mercados e atraiam capital, lembrando que, em 2025, o crescimento médio em África se estima em 3,9% e mais de 21 países terão um crescimento superior a 5%.

“Além disso, a luta contra a corrupção e o levantamento progressivo das barreiras tarifárias e não-tarifárias é o objectivo perseguido pelos nossos Estados-membros”, acrescentou, sublinhando que o continente está firmemente engajado em harmonizar as políticas comerciais, domésticas e financeiras.

O responsável destacou o sector privado como um dos principais motores de desenvolvimento e prosperidade, sendo “a combinação de políticas públicas e o sector privado” garantia de um futuro melhor para as nações africanas.

Ao mesmo tempo, prosseguiu, é importante introduzir reformas no sistema financeiro global e nas regras da Organização Mundial de Comércio.

Mahmoud Ali Youssouf disse ainda que o próximo G20 Summit na África do Sul “será uma boa oportunidade para que a voz da África seja ouvida, alto e bom som”, sublinhando que o continente africano é considerado por muitos como o centro de poder do futuro crescimento global.

Partilhar este artigo:

Receba as Top 10 notícias do dia, todos os dias

Outras Notícias