
Um mês após a UNITA exigir uma investigação à morte do deputado Diamantino Mussokola, subsistem as dúvidas sobre a abertura de um inquérito independente pelo Ministério Público. Autópsia indicou possível envenenamento.
A direção da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) já não quer fazer declarações públicas sobre o assunto, segundo informou recentemente à DW Mihaela Webba.
De acordo com a vice-presidente do grupo parlamentar do "Galo Negro", o resultado da autópsia é público e comprova que a morte, em junho, de Diamantino Mussokola, antigo secretário da presidência do partido, foi premeditada. A UNITA alega que a autópsia revelou a presença de uma substância corrosiva no estômago do deputado.
"Depois da autópsia, ficámos a saber que a causa da sua morte não foi natural. Foi premeditada, foi insidiosa, e esperamos que as autoridades angolanas instaurem o devido procedimento criminal, porque há mão criminosa na morte do deputado Diamantino Mussokola", afirmou Webba à margem do velório do político.
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A autópsia foi realizada no dia 14 de junho, mas até ao momento não houve qualquer pronunciamento oficial por parte das autoridades judiciais.
A UNITA ainda não formalizou uma queixa. Insiste, ainda assim, que deve ser feita justiça.
Segundo o partido, pelo menos três dos seus deputados teriam morrido em condições semelhantes: Após sentirem-se mal, foram encaminhados ao hospital, onde acabaram por falecer. Mas só o corpo de Mussokola foi autopsiado.
Mihaela Webba sublinha a importância de se descobrir a verdade sobre o alegado envenenamento: "Vamos deixar que as instituições que detêm a ação penal em Angola possam fazer justiça, e que num futuro próximo possamos saber quem foram os autores materiais e morais da morte do deputado Diamantino Mussokola."
A DW contactou a Procuradoria-Geral da República, mas não obteve resposta.
"A autópsia não basta"
Para o jornalista e analista político Ilídio Manuel, a Procuradoria já devia ter instaurado um inquérito, dado que existem suspeitas de envenenamento.
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"Verdade seja dita: a autópsia, por si só, não basta", comenta Ilídio Manuel. "É necessário aprofundar os exames, como os exames toxicológicos, para se determinar que tipo de veneno foi usado, em que quantidade, e se isso foi, de facto, a causa da morte do deputado. Se assim for, é igualmente essencial identificar quem foi a pessoa que administrou ou usou a substância venenosa."
Enquanto não há reação por parte das autoridades judiciais, aumenta o clima de desconfiança política. Os rumores não cessam.
Ilídio Manuel considera que falta vontade política para uma investigação transparente: "Noutras geografias, noutras latitudes, a Procuradoria-Geral da República já teria atuado, reunido todos os elementos, no sentido de esclarecer o crime."
"Isso também serviria para dissipar as desconfianças políticas que pairam sobre o caso", remata.
O analista político Celestino Lumbangululu salienta que não deve ser apenas a UNITA a exigir o esclarecimento do caso. "Não deve ser apenas a UNITA a reivindicar esse direito", conclui Lumbangululu, apontando para as eleições, que deverão ter lugar daqui a pouco mais de dois anos.