
Addis Abeba - O Presidente da República, João Lourenço, apontou este sábado, em Addis Abeba, os principais eixos para o reforço da cooperação entre África e a região das Caraíbas, sublinhando a importância da definição de metas claras e da implementação efectiva das decisões já tomadas.
No seu discurso de abertura da II Cimeira entre a União Africana (UA) e a Comunidade do Caribe
(Caricom), o líder angolano sublinhou que África e Caraíbas devem avançar com maior firmeza para a concretização dos compromissos assumidos, reforçando a cooperação em sectores estratégicos e estabelecendo mecanismos claros para a transformação das decisões em benefícios concretos para os povos das duas regiões.
“Constatamos com grande satisfação que há uma dinâmica que nos faz acreditar na concretização dos nossos objectivos comuns e, neste aspecto muito particular, gostaria de realçar os importantes progressos que se vêm registando no âmbito da nossa cooperação, de que destaco a instalação do Escritório do AfreximBank nas Caraíbas”, afirmou.
Segundo o Chefe de Estado, este importante passo abriu novas oportunidades de comércio e investimento, bem como a realização dos Fóruns Afro-Caribenhos de Comércio e Investimento, já na sua 4.ª edição, que têm aproximado empresários e governos das duas regiões.
O Presidente da República destacou ainda a assinatura, a 26 de Setembro de 2024, de um Memorando de Entendimento entre a União Africana e a Comunidade das Caraíbas.
“Entendemos que isso vai reforçar a cooperação em áreas estratégicas como o comércio, o transporte, a educação, a ciência, a cultura e o apoio mútuo em desafios globais”, referiu.
Compromissos ainda por concretizar
Apesar dos avanços, João Lourenço sublinhou que ainda há compromissos não concretizados.
Por isso, defendeu como prioridades a definição de um roteiro claro e objectivo para a criação de uma Plataforma Conjunta de Comunicação e Media, a assinatura de um Acordo Multilateral de Serviços Aéreos, a revisão dos regimes de vistos e a sua isenção, bem como a criação de voos directos entre África e as Caraíbas.
Propôs a criação de uma Parceria Público-Privada África–CARICOM para mobilização de recursos e lançar o Fórum de Territórios e Estados Africanos e Caribenhos.
O Presidente considerou fundamental potenciar esforços conjuntos para transformar as decisões em benefícios duradouros, estimulando o comércio e o investimento nos sectores da energia, tecnologia digital, agroindústria e economia azul.
No domínio cultural, realçou a necessidade do aprofundamento do intercâmbio educativo, artístico e desportivo, que reforçam a identidade partilhada.
Já no plano social, apontou a necessidade de dar voz activa à juventude, às universidades, centros de pesquisa, organizações culturais e à diáspora.
Na óptica do estadista angolano, é necessário criar Subcomités Técnicos Permanentes integrando representantes da União Africana e do CARICOM, com especialistas, parceiros da sociedade civil, sector privado e responsáveis ministeriais.
Esses órgãos, fundamentou, deverão centrar o trabalho em áreas de interesse comum, apresentando propostas concretas para o investimento na produção de vacinas, na inovação agrícola e em outros sectores que sustentem o desenvolvimento partilhado.
“É importante actuarmos de forma coordenada para ajudarmos a impulsionar as reformas que se impõem na arquitectura financeira global, de que depende, em grande medida, uma abordagem mais justa sobre a questão da dívida e da disponibilização de recursos financeiros para a realização de projectos estruturantes”, defendeu.
João Lourenço sublinhou ainda que em todas as estratégias a juventude deve ocupar um lugar central.
Para tal, propôs a institucionalização do Conselho da Juventude União Africana–CARICOM como órgão consultivo permanente, assegurando que as novas gerações sejam o eixo da construção do futuro comum.
Desafios no contexto global
O Presidente lembrou que o mundo vive um período marcado por profundas transformações, com destaque para a crise climática, insegurança alimentar e energética, instabilidade geopolítica, migrações forçadas e pressões económicas extremas.
Segundo o estadista, esses desafios atingem de forma mais intensa os países do Sul Global, especialmente os de África e das Caraíbas, por serem os mais desprovidos de meios e recursos.
No entanto, alertou que tais dificuldades são agravadas pela fragilização das instituições multilaterais, incidindo de forma preocupante sobre África e Caraíbas.
Este quadro, de acordo com o Presidente, obrigar a um esforço de cooperação mais firme no sentido da defesa e promoção constante de um multilateralismo abrangente, em que caibam todos os povos e nações em igualdade de circunstâncias, sem a marginalização a que africanos e caribenhos sempre estiveram votados.
O encontro, que decorre na sede da UA, tem como objectivo reforçar os laços de cooperação política, económica e cultural entre África e a região do Caribe, consolidando a concertação em torno de questões globais de interesse comum.