Presidente João Lourenço constata obras da futura Basílica da Muxima

As obras de construção em curso da Basílica de Nossa Senhora da Muxima vão elevar a capacidade normal de lotação do Santuário, sem a pressão da peregrinação, de 1.300 para 124.300 pessoas, sendo 4.300 sentadas no seu interior e cerca de 120 mil na sua praça pública.
Localizado no município da Quiçama, a 130 quilómetros de Luanda, o Santuário, considerado o maior centro mariano de votação católica da África Austral, recebe obras desde 2022, numa iniciativa do Executivo. Com o objectivo de se inteirar do grau de andamento das obras, que se estendem a toda a vila da Muxima, o Presidente da República deslocou-se, na manhã de ontem, àquela parcela do território da nova província do Icolo e Bengo, para, in loco, constatar em que pé se encontram os trabalhos.
Depois de receber do Gabinete de Obras Especiais (GOE) explicações detalhadas sobre o andamento dos trabalhos, João Lourenço visitou a casa-modelo da área onde vão ser alojadas as famílias que ainda se encontram a viver no perímetro reservado à construção da Basílica.
As referidas residências estão a ser construídas no bairro Coxi, uma zona adjacente à histórica vila da Muxima. Numa primeira fase, vão ser erguidas, neste local, 737 habitações, ao passo que na segunda serão 663 casas, perfazendo um total de 1.400 habitações.
Acto contínuo, o Presidente da República visitou os arruamentos, estação de tratamento de água, local de implantação da Basílica e a praça que passará a reunir os fiéis em momentos de peregrinação. No fim, João Lourenço reuniu-se com o consórcio de empresas envolvidas na empreitada, para uma melhor concertação da estratégia destinada à conclusão dos trabalhos.Uma nota da Presidência da República, publicada ontem, avança que o Chefe de Estado anunciou, no fim da visita à vila da Muxima, que vai intensificar o ritmo de presenças, tendo marcado, para Dezembro próximo, o seu regresso ao local, para, mais uma vez, tomar o pulso ao andamento da empreitada.
A ideia de requalificação da vila da Muxima nasceu há vários anos, no período pós-Independência, mas só em 2018, no primeiro mandato do Presidente João Lourenço, é que foi retomada, com as primeiras acções no terreno a acontecerem em 2022. Desde então, o Presidente João Lourenço já esteve no local em três ocasiões.
O projecto de requalificação urbana da vila e a construção da nova Basílica de Nossa Senhora da Muxima consiste na construção de um conjunto de infra-estruturas e equipamentos integrados na zona.
O projecto vai ser executado em duas fases. O contrato da empreitada para a primeira fase conta com o financiamento da linha de crédito de Portugal, através do Banco BAI Europa, assegurado pelo Banco de Fomento de Portugal. Quanto à fase 2 do projecto, este aguarda pelo enquadramento numa facilidade de crédito interno ou externo. No que diz respeito ao grau de execução física da fase 1, o projecto conta com uma execução na ordem dos 41 por cento e a financeira em 50 por cento.
Visita importante
O arcebispo de Luanda, Dom Filomeno Vieira Dias, considerou a visita do Presidente da República à vila da Muxima importante e necessária, por ter manifestado a preocupação do Executivo de ver o que é programado e executado, respondendo à ansiedade e à expectativa das populações.
O prelado enalteceu o projecto em construção naquela vila e disse que o mesmo é de múltiplas valências, sobretudo no que diz respeito aos domínios histórico, social e religioso. “Eu refiro-me mais ao de carácter social, que é a requalificação de um território, o realojamento de pessoas e a criação de melhores condições de vida para essas mesmas populações”, ressaltou.
Para Dom Filomeno Vieira Dias, este é um grande investimento no combate à pobreza e na contribuição para a auto-estima das populações. “Tem, depois, a dimensão do Santuário, que é um lugar de espiritualidade, um lugar de encontro do homem consigo mesmo, do encontro do homem com a sua natureza, na sua expressão mais genuína e mais pura, e do encontro do homem com o sobrenatural, que é Deus”, frisou o arcebispo de Luanda.
“Por isso, estamos felizes, acreditamos, pelo que vimos e pelo que constatamos, que este é um projecto que está a andar e vamos, sim, rezar para que ele aconteça com o esforço, o empenho e o sacrifício de todos”, acentuou o prelado.
Padroeira de maior devoção popular em Angola e na África Subsaariana
A Nossa Senhora da Muxima, também conhecida como Nossa Senhora da Conceição da Muxima ou Mamã Muxima, é a padroeira de Angola.
A peregrinação mariana à Muxima é considerado um caminho para fortalecer a fé e aproximar-se de Deus, reconhecendo Maria como modelo de fé e intercessora.
Mamã Muxima é considerada a padroeira mais venerada e de maior devoção popular em Angola e na África Subsaariana. Consta que a devoção à Muxima remonta à construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, naquela localidade, em 1599, pelas forças portuguesas.
A igreja foi erguida num monte na margem esquerda do rio Kwanza, como defesa de um presídio que servia como entreposto de mercadorias e escravos.
A devoção popular cresceu ao longo dos séculos, com a romaria anual a atrair milhares de peregrinos de Angola e de outras partes do continente africano.
A romaria anual acontece entre o fim de Agosto e início de Setembro, com a participação de cerca de um milhão de fiéis.
A igreja é um edifício espaçoso e forte, com arquitectura austera de estilo português, construída sobre o rio Kwanza. A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Muxima é o foco da devoção, mas a devoção também se estende a outros objectos, como terços, medalhas e imagens impressas. Classificada como monumento nacional em 1924, o local tornou-se, igualmente, um importante espaço devocional para as populações cristãs autóctones, que logo atribuíram à Mamã Muxima a realização de diversos milagres.
Os rumores de realização de prodígios logo se espalharam pelas regiões circunvizinhas, levando à organização de actos de piedade popular, quer baseados na tradição portuguesa, quer totalmente inovadoras ou reminiscentes de antigas religiões africanas.
A mais importantes dessas tradições, a Romaria de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, remonta ao ano de 1833, atraindo milhares de peregrinos todos os anos.
A devoção inspirou vários escritores angolanos, como Pepetela, que discorre sobre as tradições associadas à Mamã Muxima na obra A Sul. O Sombreiro.
Em 27 de Outubro de 2013, a imagem de Nossa Senhora da Muxima foi atacada a pauladas por um grupo de sete pessoas pertencentes à Igreja da Arca de Noé durante a missa dominical.
O ataque visava o combate a uma suposta idolatria, num dos maiores actos de intolerância religiosa já registados no país. A mesma sofreu alguns danos, mas, um ano depois, a imagem já estava plenamente restaurada. A Igreja Católica, entretanto, perdoou os agressores.