Domingo, Junho 15
Política

Presidente João Lourenço constata obras da futura Basílica da Muxima

Jornal de Angola6 min leitura
Presidente João Lourenço constata obras da futura Basílica da Muxima

As obras de construção em curso da Basílica de Nossa Senhora da Muxima vão elevar a capacidade normal de lotação do Santuário, sem a pressão da peregrinação, de 1.300 para 124.300 pessoas, sendo 4.300 sentadas no seu interior e cerca de 120 mil na sua praça pública.

Localizado no município da Quiçama, a 130 quilómetros de Luanda, o Santuário, considerado o maior centro mariano de votação católica da África Austral, recebe obras desde 2022, numa iniciativa do Executivo. Com o objectivo de se inteirar do grau de andamento das obras, que se estendem a toda a vila da Muxima, o Presidente da República deslocou-se, na manhã de ontem, àquela parcela do território da nova província do Icolo e Bengo, para, in loco, constatar em que pé se encontram os trabalhos.

Depois de receber do Gabinete de Obras Especiais (GOE) explicações detalhadas sobre o andamento dos trabalhos, João Lourenço visitou a casa-modelo da área onde vão ser alojadas as famílias que ainda se encontram a viver no perímetro reservado à construção da Basílica.

As referidas residências estão a ser construídas no bairro Coxi, uma zona adjacente à histórica vila da Muxima. Numa primeira fase, vão ser erguidas, neste local, 737 habitações, ao passo que na segunda serão 663 casas, perfazendo um total de 1.400 habitações.

Acto contínuo, o Presidente da República visitou os arruamentos, estação de tratamento de água, local de implantação da Basílica e a praça que passará a reunir os fiéis em momentos de peregrinação. No fim, João Lourenço reuniu-se com o consórcio de empresas envolvidas na empreitada, para uma melhor concertação da estratégia destinada à conclusão dos trabalhos.Uma nota da Presidência da República, publicada ontem, avança que o Chefe de Estado anunciou, no fim da visita à vila da Muxima, que vai intensificar o ritmo de presenças, tendo marcado, para Dezembro próximo, o seu regresso ao local, para, mais uma vez, tomar o pulso ao andamento da empreitada.

A ideia de requalificação da vila da Muxima nasceu há vários anos, no período pós-Independência, mas só em 2018, no primeiro mandato do Presidente João Lourenço, é que foi retomada, com as primeiras acções no terreno a acontecerem em 2022. Desde então, o Presidente João Lourenço já esteve no local em três ocasiões.

O projecto de requalificação urbana da vila e a construção da nova Basílica de Nossa Senhora da Muxima consiste na construção de um conjunto de infra-estruturas e equipamentos integrados na zona.

O projecto vai ser executado em duas fases. O contrato da empreitada para a primeira fase conta com o financiamento da linha de crédito de Portugal, através do Banco BAI Europa, assegurado pelo Banco de Fomento de Portugal. Quanto à fase 2 do projecto, este aguarda pelo enquadramento numa facilidade de crédito interno ou externo. No que diz respeito ao grau de execução física da fase 1, o projecto conta com uma execução na ordem dos 41 por cento e a financeira em 50 por cento.

Visita importante

O arcebispo de Luanda, Dom Filomeno Vieira Dias, considerou a visita do Presidente da República à vila da Muxima importante e necessária, por ter manifestado a preocupação do Executivo de ver o que é programado e executado, respondendo à ansiedade e à expectativa das populações.

O prelado enalteceu o projecto em construção naquela vila e disse que o mesmo é de múltiplas valências, sobretudo no que diz respeito aos domínios histórico, social e religioso. “Eu refiro-me mais ao de carácter social, que é a requalificação de um território, o realojamento de pessoas e a criação de melhores condições de vida para essas mesmas populações”, ressaltou.

Para Dom Filomeno Vieira Dias, este é um grande investimento no combate à pobreza e na contribuição para a auto-estima das populações. “Tem, depois, a dimensão do Santuário, que é um lugar de espiritualidade, um lugar de encontro do homem consigo mesmo, do encontro do homem com a sua natureza, na sua expressão mais genuína e mais pura, e do encontro do homem com o sobrenatural, que é Deus”, frisou o arcebispo de Luanda.

“Por isso, estamos felizes, acreditamos, pelo que vimos e pelo que constatamos, que este é um projecto que está a andar e vamos, sim, rezar para que ele aconteça com o esforço, o empenho e o sacrifício de todos”, acentuou o prelado.

Padroeira de maior devoção popular em Angola e na África Subsaariana

A Nossa Senhora da Muxima, também conhecida como Nossa Senhora da Conceição da Muxima ou Mamã Muxima, é a padroeira de Angola.

A peregrinação mariana à Muxima é considerado um caminho para fortalecer a fé e aproximar-se de Deus, reconhecendo Maria como modelo de fé e intercessora.

Mamã Muxima é considerada a padroeira mais venerada e de maior devoção popular em Angola e na África Subsaariana. Consta que a devoção à Muxima remonta à construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, naquela localidade, em 1599, pelas forças portuguesas.

A igreja foi erguida num monte na margem esquerda do rio Kwanza, como defesa de um presídio que servia como entreposto de mercadorias e escravos.

A devoção popular cresceu ao longo dos séculos, com a romaria anual a atrair milhares de peregrinos de Angola e de outras partes do continente africano.

A romaria anual acontece entre o fim de Agosto e início de Setembro, com a participação de cerca de um milhão de fiéis.

A igreja é um edifício espaçoso e forte, com arquitectura austera de estilo português, construída sobre o rio Kwanza. A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Muxima é o foco da devoção, mas a devoção também se estende a outros objectos, como terços, medalhas e imagens impressas. Classificada como monumento nacional em 1924, o local tornou-se, igualmente, um importante espaço devocional para as populações cristãs autóctones, que logo atribuíram à Mamã Muxima a realização de diversos milagres.

Os rumores de realização de prodígios logo se espalharam pelas regiões circunvizinhas, levando à organização de actos de piedade popular, quer baseados na tradição portuguesa, quer totalmente inovadoras ou reminiscentes de antigas religiões africanas.

A mais importantes dessas tradições, a Romaria de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, remonta ao ano de 1833, atraindo milhares de peregrinos todos os anos.

A devoção inspirou vários escritores angolanos, como Pepetela, que discorre sobre as tradições associadas à Mamã Muxima na obra A Sul. O Sombreiro.

Em 27 de Outubro de 2013, a imagem de Nossa Senhora da Muxima foi atacada a pauladas por um grupo de sete pessoas pertencentes à Igreja da Arca de Noé durante a missa dominical.

O ataque visava o combate a uma suposta idolatria, num dos maiores actos de intolerância religiosa já registados no país. A mesma sofreu alguns danos, mas, um ano depois, a imagem já estava plenamente restaurada. A Igreja Católica, entretanto, perdoou os agressores.

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