Mais de 30 pessoas perdem a vida em acidentes de viação em Caxito

Quarenta e uma pessoas perderam a vida nos 129 acidentes de viação registados, em Caxito, capital da província do Bengo, entre Janeiro e Abril deste ano, que provocaram também 201 feridos graves. A sinistralidade rodoviária é a primeira causa de morte nos mais jovens e a quarta em todas as idades na região.
O número de mortes e feridos nas estradas do Bengo são alarmantes e preocupam a sociedade, sendo que vários factores estão associados aos acidentes de viação: a condução sob efeito de álcool, excesso de velocidade, uso de dispositivos electrónicos ao volante, viaturas em mau estado técnico, estradas esburacadas, má sinalização, fraca iluminação pública, ultrapassagens perigosas e falta de precaução, quer por parte dos automobilistas, quer dos transeuntes.
Com 1858 km de extensão, a Estrada Nacional 100 (EN-100), que atravessa o país de Norte a Sul, sendo que em cada dois dias três pessoas morrem em acidentes de viação.
Os motoristas de pesados (camiões) são os principais responsáveis pelos acidentes nas estradas do Bengo, uma vez que desrespeitam as regras de trânsito, em consequência dos valores monetários que recebem por cada frete de carregamento de inertes. Por cada corrida, os motoristas de pesados recebem a quantia monetária de quatro mil Kwanzas, pelo que colocam em perigo a vida do ser humano.
Bengo, como outras regiões do país, enfrenta desafios significativos relacionados com os acidentes de viação. Essa problemática afecta não apenas a segurança dos cidadãos, mas também provoca impactos sociais e económicos consideráveis.
Perdeu a esposa
João António é chefe de família e perdeu a esposa no mês de Março na Estrada Nacional 100, na descida dez por cento nas imediações do Interposto da Madeira, quando dois camiões de inertes colidiram e pegaram fogo. A malograda, segundo a descrição do viúvo, estava num dos camiões acidentados e morreu carbonizada.
“Até hoje ainda penso que ela está ao meu lado, quando vou deitar. Quando desperto ela já se foi para nunca mais voltar”, contou emocionado.
Com o rosto banhado em lágrimas e a voz embargada, o viúvo apelou às autoridades para uma maior intervenção na prevenção e acções pedagógicas para a redução da sinistralidade rodoviária.
“São muitas famílias que ficam destruídas. Perder um ente querido em um acidente de viação é uma experiência extremamente dolorosa e difícil. É um momento em que muitas emoções podem surgir, desde tristeza, choque, revolta e desamparo”.
Sebastião Manuel, morador do bairro Kijoão Mendes, ficou com incapacidades nos membros superiores e inferiores após um acidente, em 2024.
“Fiquei defeituoso por culpa das más condições da estrada e da forma irresponsável como muitos motoristas conduzem”, alertou, apelando às autoridades de direito para que aumentem acções tendentes a reduzir o quadro. Muitas pessoas ficam incapacitadas ou perdem a família”.
Como estes, são vários os casos que se registam ao longo dos anos. A EN-100 é considerada uma das vias mais perigosas da província do Bengo, com um histórico crescente de acidentes e mortes.
Condutores que usam a via, diariamente, relatam dificuldades, com episódios e incidentes fora do normal. João Melo, automobilista há mais de 25 anos, afirmou que os trabalhos de tapa-buracos são mal feitos.
“Tapam, mas deixam lombas enormes. Isso não ajuda, só piora a condução e aumenta o risco de acidentes”, explicou.
Gaspar Rico, motorista de pesados, utiliza regularmente a Estrada Nacional 100, fazendo o trajecto Luanda/Uíge, transportando materiais de construção.
Para Gaspar Rico, o troço entre Sassa Povoação e Úcua é tido como o mais crítico: “Há buracos em quase todo o percurso. Esse é o pior troço, uma vez que não abona a favor de uma boa conduta, antes dificulta, concorre para estragos nas viaturas e prolonga a viagem. É um verdadeiro perigo”, lamentou.
Mário António , residente em Caxito, com algum senso de humor afirmou que já decorou os locais mais perigosos para tentar evitar acidentes.“A estrada está tão má que não é apenas um meio de ligação, tornou-se um verdadeiro obstáculo diário.”
Governo preocupado
A governadora provincial do Bengo, Maria Antónia Nelumba, mostrou-se preocupada com o crescente número de mortes nas estradas do Bengo.
Durante uma sessão extraordinária do Conselho Provincial de Viação e Ordenamento do Trânsito, que se realizou, recentemente, em Caxito, a governante apelou para uma intervenção urgente, com o objectivo de inverter o actual cenário.“A sinistralidade rodoviária tem ceifado muitas vidas. É urgente encontrarmos soluções para minimizar os riscos”, afirmou.
O director do Gabinete Provincial de Infra-estruturas do Bengo, Laurindo Abel, afirmou que estão em curso trabalhos de levantamento técnico e intervenções paliativas nas principais vias da cidade de Caxito.
“Muitos troços foram vandalizados. Isso dificulta a visibilidade à noite, aumentando os acidentes de viação”, sublinhou. Por sua vez, Maria Eugénia, directora do Gabinete dos Transportes, revelou que novas paragens serão erguidas no decurso deste, no Capari, Caxito e Sassa Povoação.
“As novas paragens vão melhorar a organização do trânsito e ajudar na redução da criminalidade e dos atropelamentos, com a instalação de passadeiras”, destacou.
O superintendente Paulo de Sousa, porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional, garantiu que o tempo da pedagogia terminou e os prevaricadores serão responsabilizados criminalmente.
“A partir de agora, vamos punir com medidas penais os responsáveis pelos acidentes. Já perdemos muitas vidas. A Polícia Nacional vai apertar o cerco”, garantiu.
O responsável sublinhou, ainda, que os acidentes graves têm afectado a imagem da província e que os culpados devem ser responsabilizados.
“O homem é o principal causador dessas tragédias. Vamos actuar para que esta realidade mude”, concluiu.