Hélder Bataglia foi peça-chave na entrada da China em Angola, revela Manuel Vicente

O antigo vice-presidente da República e ex-presidente da Sonangol, Manuel Vicente, revelou que foi o empresário luso-angolano Hélder Bataglia quem facilitou os primeiros contactos entre Angola e a China, numa missão orientada diretamente pelo então Presidente José Eduardo dos Santos.
As declarações, prestadas por Vicente nos dias 6 de agosto e 5 de novembro de 2020, foram lidas esta terça-feira, 8, em audiência no Tribunal Supremo, no âmbito do julgamento dos generais Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, acusados de terem defraudado o Estado angolano em milhões de dólares.
Segundo Manuel Vicente, foi através de Bataglia que o contacto com o empresário chinês Sam Pa foi estabelecido, abrindo caminho para uma nova era de cooperação económica entre Angola e a China. Na altura, Vicente desempenhava funções como presidente do Conselho de Administração da Sonangol e era o coordenador das relações de cooperação bilateral com a China.
“Foi Hélder Bataglia quem comunicou ao Presidente José Eduardo dos Santos que conhecia um empresário chinês com interesse em investir em Angola”, afirmou Vicente, referindo-se a Sam Pa, figura central na rede de negócios sino-angolana que viria a ganhar grande influência nos anos seguintes.
Conforme descrito no testemunho, as primeiras negociações com a China culminaram na assinatura de um financiamento de dois mil milhões de dólares, no final de 2003. A delegação angolana incluía, além de Vicente, o então ministro das Finanças, José Pedro de Morais, e o governador do Banco Nacional de Angola, Amadeu Maurício.
O ex-dirigente revelou ainda que esteve diretamente envolvido na criação da empresa China Sonangol, com sede em Hong Kong, formada por três acionistas: a estatal Sonangol (30%), Sam Pa e a empresária chinesa Lo Fong (70%).
Hélder Bataglia, que presidiu à Escom, o braço africano do Grupo Espírito Santo, tem sido associado a várias investigações judiciais em Portugal e Angola, relacionadas ao colapso do GES e às conexões com redes de poder em Luanda, embora sempre tenha negado qualquer envolvimento em práticas ilícitas.
O julgamento, iniciado em março deste ano, também envolve os empresários Yiu Haiming, Fernando Gomes e as empresas Plansmart International Limited, Utter Right International Limited e China International Fund (CIF), ligadas aos investimentos sino-angolanos sob investigação.