Segunda-feira, Julho 28
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África tem mais 6 bilionários do que em 2020, mas fosso da desigualdade agravou em 5 anos

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África tem mais 6 bilionários do que em 2020, mas fosso da desigualdade agravou em 5 anos

Com 23 bilionários na lista da Forbes deste ano, mais seis do que em 2020, África viu a fortuna dos homens mais ricos do continente, que representam 0,02% da população, aumentar 56%, nos últimos cinco anos. Em sentido contrário, o número de pessoas a viver em pobreza extrema agravou-se desde o ano em que foi declarada a pandemia da Covid-19, fruto de "políticas e estruturas injustas", refere a Oxfam, no relatório "A crise de desigualdade em África e a ascensão dos super-ricos". Como resultado, em 2024, sete em cada 10 pessoas no mundo que viviam em situação de pobreza extrema estavam em África, número que afunda as expectativas da população do continente.

"África enfrenta uma dupla crise de desigualdade. Não só o continente e os seus países estão entre os mais desiguais do mundo, mas os seus governos estão, em média, entre os menos empenhados na redução da desigualdade", conclui a confederação de ONGs sediada em Londres.

No relatório, divulgado a 10 de Julho, a Oxfam deixa um apelo aos governos para aumentarem a tributação dos bilionários, com a aplicação de um imposto adicional de 1% sobre a riqueza, argumentando que o continente tem os impostos sobre a riqueza mais baixos do mundo, enquanto a tributação dos mais pobres tem vindo a aumentar, o rendimento dos trabalhadores é cada vez mais baixo e é "comido" pela inflação. Quadro que encaixa em Angola, onde os trabalhadores "ficam com menos de 20% da riqueza criada no país", como mostram as Contas Nacionais Anuais (ver texto na página 6).

A Oxfam, que actua em mais de 90 países, foi medir a riqueza acumulada pelos bilionários africanos nos últimos cinco anos e constatou que "as 4 pessoas mais ricas de África - todos homens - têm mais riqueza do que metade dos 750 milhões de habitantes do continente juntos". Mais, nos últimos cinco anos, os multimilionários africanos aumentaram a sua riqueza em 56%, enquanto os que figuram no top 5 dos bilionários africanos viram a sua fortuna subir, neste período, em 88%.

"Este nível de desigualdade extrema não é natural nem desejável, mas sim o resultado de políticas e estruturas injustas - nacionais e globais - que vêem a riqueza de África fluir para poucos, em vez de beneficiar a maioria", conclui a Oxfam, organização que congrega 19 ONGs que trabalham no combate à pobreza e a injustiça.

Desigualdade extrema mina as democracias

O actual sistema de redistribuição de rendimentos, que drena a riqueza africana e global para os ricos, "deve ser uma grande preocupação para todos, dado que a desigualdade extrema ameaça minar a democracia, dificulta a redução da pobreza e o crescimento, agrava a crise climática e amplia as injustiças de género", alerta a Oxfam.

Os dados do relatório são claros e mostram como o rendimento dos mais pobres em África tem reduzido, na proporção inversa ao aumento do rendimento dos mais ricos, cuja fortuna escalou a partir do novo milénio. No ano 2000, África não tinha multimilionários em dólares, hoje são 23. Só nos últimos cinco anos, a riqueza combinada dos bilionários africanos aumentou 56%, atingindo os 112,6 mil milhões USD. Se recuarmos uma década, em 1990, apenas uma em cada 10 pessoas que viviam em situação de pobreza extrema no mundo vivia no continente. Em 2024, este número era de 7 em cada 10.

O fosso agravou em 2020. Desde o ano em que foi declarada a pandemia da Covid-19 o número de pessoas a viver em situação de pobreza extrema aumentou em mais de 40 milhões em África, onde o rosto da pobreza é feminino (os homens detêm três vezes mais riqueza, a maior disparidade de géneros de todas as regiões do globo, e o dobro da proporção mundial).

Contas feitas, os cinco homens mais ricos do continente detêm agora mais riqueza (57,4 mil milhões USD) do que 750 milhões de pessoas, o que corresponde a metade da população africana. Já a riqueza combinada dos 23 bilionários africanos que figuram na lista da Forbes de 2025 atinge os 112,6 mil milhões USD, quase tanto quanto a riqueza de todos os africanos.

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