Angola: Censo Digital em Colapso
Por TopAngola ·

Resumo:
Texto examina o fracasso do primeiro censo digital em Angola, apontando má gestão, falta de transparência e falhas que afetaram a credibilidade dos dados.
Pontos-chave:
Em setembro e novembro de 2024, Angola lançou o primeiro censo digital com promessas de agilidade, mas sofreu atrasos na cartografia e na distribuição de tablets, o que comprometeu a fase inicial de reconhecimento de domicílios e lançou dúvidas sobre a precisão dos dados demográficos. O governo destinou mais de 50 mil milhões de kwanzas ao RGPH, elevando a expectativa de um processo tecnológico exemplar.
Apesar de 37% do orçamento total ter sido reservado para tablets — cerca de 21,8 milhões de dólares pagos à LiraLink/ZTE —, apenas 540 dispositivos foram oficializados, segundo registos do Ministério das Finanças, gerando escassez grave de equipamentos e atrasando a recolha de dados no interior do país. Em várias províncias, recenseadores compartilharam carregadores e powerbanks, trabalhando sem formação adequada e sem apoio logístico essencial, incluindo alimentação e alojamento.
Relatos internos descrevem desorganização crónica, supervisão insuficiente e interferência política, com listas do MPLA substituindo técnicos qualificados e cartógrafos ausentes na distribuição de zonas censitárias, o que criou vazios e comprometeu a integridade metodológica da serpentina nos bairros rurais e periféricos. Fontes mencionam registros de selos colados sem entrevistas, protestos populares e recenseadores fugindo de ameaças, sinalizando desconfiança na aplicação do processo. A omissão de apoio institucional agravou o cenário.
Iniciativas de cobertura de qualidade recorreram ao Inquérito de Cobertura da ONU para tentar validar dados corrompidos, mas não conseguiram compensar a falta de supervisão e a manipulação política, deixando a fase final de consolidação de resultados vulnerável a inconsistências estatísticas. Especialistas alertam que, sem dados confiáveis, o planejamento nacional e a formulação de políticas públicas ficam seriamente prejudicados, comprometendo direitos civis e a soberania estatística do país.
O fracasso expõe um modelo de governação que investe em tecnologia sem planeamento estratégico, prioriza impressões partidárias e falha no compromisso com a transparência, o que ameaça a confiança pública e questiona a legitimidade dos futuros censos e do planejamento socioeconômico em Angola. A ausência de prestação de contas reforça a cultura de improviso institucional e gera incertezas sobre a veracidade de indicadores demográficos fundamentais para o desenvolvimento.