Distância e questões emergentes obrigam cidadãos a criarem “quartos” junto dos hospitais

Diante do imponente castelo sanitário, erguido com um investimento avaliado em 179 milhões de dólares, nos arredores da Camama, o jornalista avistou os “campistas”. Estes, na realidade, já se tinham levantado há cerca de três horas e, como se de quem estivesse à espera de uma oportunidade para falar se tratasse, não fizeram caso ao pedido de entrevista e logo puseram-se a relatar os muitos problemas vividos, que se resumem, também, no conjunto de papelões estendidos no passeio separado apenas pela estrada com o Centro Materno Infantil Azancot de Menezes
Dado ao frio que se faz sentir no país nesta altura do ano, passar à noite ao relento em papelões, sendo o corpo coberto por uma peça de pano leve, não é vontade ou mero capricho, como Catarina Simão imediatamente deixou patente. Muito pelo contrário, é o maior símbolo de amor por quem está a padecer no interior do hospital a receber tratamento.
No entanto, foi necessário que o jornalista, traiçoeiro de profissão, percebesse, antes, quem é esta que diz ter tanto amor a ponto de pernoitar 18 dias consecutivos à mercê do cacimbo abrupto. No jornalista, Catarina via mais do que um entrevistador; ela via um confidente a quem podia desabafar e contar os episódios da sua não muito feliz vida. Esta vida, a única que tem, ainda lhe dá esperanças de que a filha, que veio ao mundo com má formação congénita, há de sobreviver e ter a oportunidade de conhecer os outros cinco irmãos.
Eis a razão de a jovem de 30 anos não conhecer o cheiro da sua casa há quase um mês, desde que deu à luz no dia 12 de Junho. “Tive o bebé num hospital do Zango II e lá reencaminharam- me para o Azancot, um hospital que eu não conhecia, mas não tive como”. No Zango II, os médicos encararam o caso como não sendo possível resolver naquelas instalações, uma vez que a criança nasceu “com as tripas fora da barriga”, o que os obrigou a transferir a jovem parturiente. Já no Azancot de Menezes, a bebé, tal como conta a mãe, foi socorrida e colocada numa incubadora, pelo que a mãe não podia ficar o tempo inteiro dentro do hospital, mas é chamada pelos médicos sempre que necessário.